Da LGBTfobia à gordofobia: como o seguro protege vítimas das ‘novas feridas’ da escola?
12.06.2023 - Fonte: InfoMoney
Já há apólices para cobertura de danos emocionais registrados em sala de aula; veja quais são e como detectá-los
A escola é o primeiro laboratório da vida. Entre livros e provas, crianças e adolescentes aprendem a conviver com o universo do outro. Essa convivência, no entanto, é atravessada por tensões que há até pouco tempo eram tratadas como simples brincadeira. Mas não é.
Veja o caso do bullying. Ao ser nomeado, o problema vem sendo estudado e atacado pelos próprios alunos, pais, professores e especialistas do comportamento. A versão “cyber”, que nada mais é do que o ato de humilhar e agredir alguém de forma sistemática no ambiente virtual, também é outro desafio que se impõe.
As “feridas” não param por aí. A LGBTfobia (ódio a lésbicas, gays, bissexuais, travestis, pessoas trans, queers, pessoas intersexo e assexuais), gordofobia, racismo e um grau de violência sem precedentes (como os registrados em massacres) têm feito da escola de hoje um campo minado com responsabilidades que também têm batido na porta das seguradoras.
“Embora seja um tema sensível, as seguradoras estão se preparando para novos fatos que podem culminar em ações indenizatórias, como o stalking virtual [perseguição pela internet], pornografia de vingança, bullying, homofobia, transfobia e racismo”, comenta Ana Carolina Donizete, diretora-geral e sócia da AF Crédito Soluções Financeiras.
Quando se fala em seguros escolares, a inadimplência ainda é a grande preocupação dos brasileiros, mas a procura por proteção contra violências (física, virtual e comportamental) vem crescendo.
No último ano, o Grupo É Seguro contabilizou crescimento em torno de 30% no fechamento e 60% em cotação e apresentação de seguro que oferece coberturas para situações emocionais e corporais de crianças e adolescentes.
Marco Junior, sócio do Grupo A12+ e especialista em seguro educacional, diz que do ponto de vista de proteção social, a contratação do seguro demonstra a preocupação que a escola tem no amparo de sua comunidade diante de uma necessidade. “Se torna um diferencial”, acentua.
“A personalização no mercado de seguros é uma tendência constante. Há seguradoras que se preocupam com a violência nas escolas há mais de 15 anos. O seguro educacional e escolar cuida da integridade física e emocional dos alunos e funcionários da instituição de ensino”, explica Ana Carolina Donizete, da AF Crédito Soluções Financeiras.
Coberturas
São duas modalidades disponíveis no mercado para atender às novas necessidades da escolas:
- o seguro acidentes pessoais, usado para proteger alunos;
- e o seguro responsabilidade civil educação, para professores e a própria escola.
Esses seguros podem pagar indenizações em casos de bullying, homofobia, transfobia, racismo, mortes acidentais, furtos e roubos, acidentes de trânsito (como em excursões, por exemplo) e até mesmo em situações como intoxicação alimentar.
As coberturas preveem ainda auxílio e acompanhamento psicológico e emocional e, no caso do responsabilidade civil escolar, o pagamento de possível indenização financeira, após processo tramitado e julgado.
Adriano Oliveira, CEO do Grupo É Seguro, conta que o setor vem se preparando para oferecer proteção em caso de violência emocional. Além disso, diz ele, vem aplicando e disponibilizando material informativo e de marketing para profissionais da área.
Como agir?
“Quando acontece algum tipo de ação preconceituosa (racismo, gordofobia ou qualquer outro tipo de preconceito), o caso não deve ser tratado individualmente. Não é punir e expor o aluno que cometeu o ato. É trabalhar isso de forma mais ampla. A pauta de combate ao preconceito precisa ser cuidada coletivamente com o objetivo de chamar os alunos para serem protagonistas e pensarem caminhos para combater essas questões”, considera Renata Ishida, psicóloga e gerente pedagógica do LIV, programa de educação socioemocional do Brasil que alcança mais de 500 mil alunos e famílias.
O que as escolas devem evitar?
“No contexto do combate à discriminação, existem certas ações que as escolas devem evitar para garantir que sua abordagem seja eficaz e inclusiva”, ensina Kélen Abreu, doutora em educação e mestre em administração estratégica pela UDESC ( Universidade do Estado de Santa Catarina).
Segundo ela, algumas medidas incluem:
- Ignorar ou minimizar o problema: É crucial que as escolas não ignorem ou minimizem os casos de discriminação. Fingir que o problema não existe ou não abordá-lo de forma adequada pode perpetuar o ciclo de discriminação e prejudicar ainda mais as vítimas.
- Culpar as vítimas: As escolas devem evitar culpar as vítimas por sua condição ou por serem alvo de discriminação. Culpar as vítimas só reforça os estereótipos e a culpa injusta que já enfrentam.
- Tratar os casos isoladamente: As escolas devem evitar tratar os casos de discriminação como incidentes isolados. É essencial entender que a discriminação sistêmica é um problema mais amplo e requer abordagens holísticas para combatê-la.
- Falta de treinamento adequado para educadores: Os educadores desempenham um papel fundamental no combate à discriminação nas escolas. É essencial que eles recebam treinamento adequado sobre questões relacionadas à diversidade, inclusão e combate ao preconceito. A falta de treinamento pode resultar em respostas inadequadas ou insensíveis aos casos de discriminação, pois cada um tem sua origem, cultura e entendimentos distintos sobre casos de discriminação.
- Falta de envolvimento dos pais e da comunidade: A luta contra a discriminação não deve ser apenas responsabilidade das escolas. É crucial envolver os pais e a comunidade, para que haja um apoio abrangente e um entendimento compartilhado sobre a importância da inclusão e do combate ao preconceito.
As escolas devem evitar ações que perpetuem o preconceito, culpem as vítimas ou tratem os casos de discriminação de forma isolada. É fundamental adotar uma abordagem abrangente, sensível e envolvente para criar um ambiente inclusivo e seguro para todos os alunos.