O que impede brasileiro de contratar mais seguro — em diferentes momentos da vida?

03.10.2023 - Fonte: InfoMoney

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‘Tá Seguro?’ entrevista grandes nomes do setor em episódio especial gravado na maior conferência de seguros da América Latina

Não é segredo que o Brasil tem uma baixa penetração de seguro: apenas 30% da frota de veículos é segurada, menos de 20% das residências têm alguma cobertura securitária e não chega a 10% a proporção da população brasileira com algum plano de previdência. Sob esse cenário, o ‘Tá Seguro?’ foi às ruas de São Paulo e entrevistou consumidores para entender a percepção da população sobre o mercado de seguros, que busca ser 10% do PIB (Produto Interno Bruto) até 2030.

O resultado serviu como base para o episódio especial do videocast gravado diretamente da 38ª Conferência Hemisférica de Seguros, organizada pela Fides (Federação Interamericana de Empresas de Seguros), encontro que levou ao Rio de Janeiro mais de 2 mil participantes de 41 países entre 24 e 26 de setembro.

O InfoMoney reuniu para uma conversa exclusiva, no estúdio de vidro construído para o evento, três grandes nomes do mercado segurador brasileiro:

  • Dyogo Oliveira, presidente da CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras), entidade anfitriã do encontro internacional;
  • Patrícia Freitas, CEO da Prudential do Brasil; e
  • Roque de Holanda Melo, CEO da Junto Seguros.

De acordo com análise dos convidados, há alguns fatores que dificultam a ampliação do mercado e da participação de seguros na vida do brasileiro. “Depende um pouco do tipo do seguro, mas a primeira questão que eu acho relevante e que é geral é exatamente a falta de conhecimento, de informação e a cultura de ter o seguro. Na Alemanha, por exemplo, é parte do cotidiano do cidadão ter o seguro da casa, do carro, de seus bens. O brasileiro tem sempre aquela tese de que nada de mal vai acontecer com ele, só acontece com o vizinho”, comenta Dyogo Oliveira, da CNseg.

Patrícia Freitas, da Prudential, conta que uma pesquisa recente realizada pela seguradora apontou quatro motivos principais:

  • Condição financeira;
  • Desconfiança;
  • Desconhecimento;
  • Falta de necessidade.

“Acredito que esses quatro fatores são os mais importantes”, diz. Roque de Holanda Mello, da Junto Seguros, concorda com Dyogo e Patricia. Segundo ele, “a maioria da população acredita que seguro é custo e não investimento”. Para efeito comparativo, ele cita que, em outros países, como nos Estados Unidos, 100% da frota veicular tem seguro, já que é uma proteção obrigatória em 49 dos 50 estados norte-americanos.

Um dos depoimentos em vídeo veiculados no programa mostra justamente a desconfiança de um consumidor de seguro que alega não ter conseguido utilizar a proteção no momento em que mais precisou: quando passou por uma enchente na rua.

“Já [comprei] um seguro, mas não obtive tanto sucesso porque não foi pago totalmente o valor do carro. Teve um alagamento e não cobria, se fosse um caso de enchente cobriria, mas como tava no meio da pista ocasionou de alagar, então, o seguro não cobriu”, conta Luiz, de 32 anos.

“Os eventos estão cada vez mais extremos, vai direto de um ano de seca para um ano de enchente. A gente vai ter que aprender a lidar melhor com isso, e a melhor maneira de se lidar com isso vai ser ter seguros amplos que tenham uma grande cobertura em termos de participação da população”, opina o presidente da CNseg. Ele reforça ainda a importância de entender as coberturas contratadas para ser atendido conforme a situação. “Se você tem uma residência numa região passível de ser alagada por enchente ou por inundação, veja se o seu seguro residencial inclui essa cobertura”, exemplifica o presidente da CNseg.

Por outro lado, outros consumidores relatam ver utilidade nas coberturas securitárias, porém, apontam que falta clareza na explicação das regras de uso do seguro em várias modalidades – como no seguro saúde e de vida.

“Meu pai tinha seguro de vida, ele faleceu há pouco tempo e foi algo que ajudou a gente bastante. Depois desse acontecimento, a gente meio que ficou perdido no decorrer do processo, quanto ao seguro. Então acho que [a dificuldade é] entender um pouquinho mais as regras”, conta Verônica, de 23 anos, sobre as dúvidas que tem sobre a modalidade de seguro de vida.

Para Patrícia Freitas é preciso garantir o acesso do consumidor a meios que o ajudem a entender melhor as coberturas disponíveis e o que foi contratado. Corretores e consultores, por exemplo, têm esse papel, além das próprias seguradoras, que podem se aproveitar de todos os canais disponíveis.

“Obviamente nós temos um papel importante em reduzir esse desconhecimento. Fala-se muito de condições gerais, em letrinha miúda, que pode existir, no sentido só de uma redação, mas no conteúdo daquilo que o cliente precisa entender. (…) E o que qualquer companhia de qualquer segmento precisa fazer melhor é escutar o cliente. Essa, pra gente, tem sido uma experiência muito importante”, diz a executiva da Prudential.

De acordo com ela, hoje “a empresa inteira” é incentivada a ouvir as chamadas feitas pelos clientes ao call center, para conseguir entender quais são as principais dúvidas e reclamações e, a partir disso, construir melhorias nos processos e soluções. “A gente só vai melhorar e saber o que a gente precisa fazer diferente e melhor se a gente tiver ouvindo o nosso cliente”, ressalta.

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