Planos de saúde para empresas devem sofrer reajuste de 25% em 2024
03.01.2024 - Fonte: CQCS
Os planos de saúde empresariais, modalidade que representa 70% do setor, devem ter reajuste médio de 25% neste ano. Essa variação, equivalente a quatro vezes a inflação geral, é semelhante ao aumento aplicado no ano passado. De acordo com o Valor Econômico, tal movimento interrompe uma sequência de altas nos reajustes, sendo que o de 2023 foi o maior já registrado desde 2018.
Leonardo Coelho, vice-presidente da área de saúde da Aon, uma das maiores consultorias em gestão de benefícios, comentou que o reajuste de 2024 deve ser similar ao do ano passado: “Acredito em estabilidade ou pequena melhora, o reajuste deve ser parecido com 2023”. Segundo levantamento da Aon, o custo médico teve uma variação média de 14% em 2023, percentual parecido com o verificado em 2022.
A visão é compartilhada por Thiago Torres, cofundador da consultoria Pipo, que espera uma melhora no nível de gastos com saúde mais para o segundo semestre do ano. Além do aumento nos custos e do volume de procedimentos médicos realizados, o último reajuste é explicado por um outro componente: há planos de saúde com preços incompatíveis com o atual nível de despesas médicas e as operadoras estão aplicando majorações expressivas para compensar a diferença. Esse descasamento começou em 2021, quando houve o reajuste negativo e as operadoras passaram a ofertar produtos precificados com base na sinistralidade de 2020. Na época, devido ao isolamento social, os gastos médicos despencaram.
“Mas, houve uma retomada forte de procedimentos e os planos de saúde não estavam adequadamente precificados”, disse Leonardo Coelho. Em 2021, com uma sinistralidade ainda baixa, as operadoras comercializaram planos de saúde com valores reduzidos, com o objetivo de ganhar mercado tendo em vista a forte demanda por convênio médico frente a deflagração da covid.
Em 2022, o setor teve um incremento de cerca de 1,3 milhão de novos usuários, mas amargou prejuízo operacional de cerca de R$ 10 bilhões. “Entraram no sistema muitos usuários com desconto. O preço foi otimista demais, isso pesou para as operadoras e agora elas estão corrigindo o preço. Claro, que para as empresas isso não é bom”, disse Luiz Feitoza, sócio da consultoria Arquitetos da Saúde.
“A reprecificação começou no segundo semestre de 2022, mas veio com maior intensidade em 2023”, disse o VP da área de saúde da Aon. Nos nove primeiros meses de 2023, as operadoras ganharam cerca de 750 mil novos clientes, mas tiveram prejuízo operacional de R$ 5,1 bilhões. Ou seja, é a metade do prejuízo e do volume de novos usuários apurados ao longo de 2022.
O aumento na base de usuários foi puxado, principalmente, pelos planos de saúde voltados às pequenas e médias empresas (PME), cujo preço inicial é menor e, em boa parte dos casos, adquirido por pessoas físicas que têm um
CNPJ. O número de contratos de convênios médicos com até cinco vidas disparou 75% desde 2020. Essa modalidade teve reajuste de até 25% em 2023, sete pontos percentuais acima do aplicado em 2019. “O mercado fez uma aposta em PME para capturar crescimento. Mas não houve sucesso, não há equilíbrio nessas carteiras, basta ver os reajustes elevados”, disse Feitoza.
Os planos de saúde vigentes antes da pandemia tiveram reajustes em patamares mais baixos e até queda de preço em 2021. O aumento aplicado no ano seguinte não compensou totalmente as despesas médicas.
O vice-presidente da Aon lembra que, após a pandemia, o comportamento de uso do plano de saúde mudou, impactando o cálculo atuarial das operadoras: “Hoje, há novos exames, os médicos estão solicitando outros tipos de procedimentos e testes, surgiram descobertas envolvendo o transtorno do espectro autista (TEA) e há mais fraudes”, disse Coelho.
Nesse cenário, a palavra de ordem no setor é manter a rentabilidade mesmo que essa medida represente perda de clientes, o que tem gerado uma queda de braço ainda mais acirrada entre as empresas contratantes e as operadoras de planos de saúde. Essa foi a fotografia de 2023 e deve se repetir neste ano. “Os reajustes devem continuar sendo o principal motor para aumentar as margens em todo o setor”, destacou o Citi em relatório.
A Fenasaúde nega que o setor tenha ofertado planos de saúde sub precificados para aumentar participação de mercado e afirma que os reajustes são baseados em custo médico e na frequência de uso dos planos de saúde.
O UnitedHealth Group (UHG), que vendeu sua operação no Brasil em dezembro, informou que assumirá encargos de US$ 7 bilhões. A maior parte desse valor é referente a ajustes de câmbio da venda da operadora de planos de saúde Amil, da rede de 37 hospitais e de 28 clínicas médicas.
O grupo disse ainda que espera concluir a transação no primeiro semestre de 2024, segundo a Bloomberg. O empresário José Seripieri Filho, fundador da Qualicorp e Qsaúde, adquiriu a operação brasileira do UHG por R$ 2 bilhões mais assunção de passivos da ordem de R$ 10 bilhões.
O grupo americano havia comprado a Amil, em 2012, por cerca de US$ 5 bilhões, o equivalente na época a R$ 10 bilhões. Em todo esse período, a operação brasileira acumulou prejuízos, principalmente, devido à carteira de planos de saúde individuais.
Mas também há perdas na divisão de hospitais. Segundo fontes, desde 2012, o UHG já fez aportes de cerca de R$ 10 bilhões na operação brasileira, tendo em vista que o negócio é deficitário.